Não sei se sempre foi assim ou se isso é um traço da sociedade contemporânea, mas hoje em dia eu acredito que todo mundo tem algum tipo de vício.
Pode ser álcool, cigarro, maconha, cocaína, café, açúcar, fritura, trabalho, dinheiro, compras, sexo, pornografia, crossfit, jogo de azar, videogame, redes sociais… As opções de práticas/substâncias viciantes são inúmeras, quase tão vastas quanto a diversidade da experiência humana.
Cada pessoa é um universo, com características físicas, psicológicas, laços de afeto, redes de apoio, estrutura familiar e financeira diversas.
Pessoas diferentes, organismos diferentes, backgrounds diferentes… resultados diferentes. Como diz o clichê: “a diferença entre o remédio e o veneno está na dose” e “cada um sabe onde dói o calo“. O que é vício pra um, pode ser uma diversão saudável e inocente para o outro.
De qualquer forma, ainda que variem de pessoa pra pessoa, arrisco apostar que pra cada indivíduo contemporâneo existe pelo menos um vício específico que se conecta mais diretamente com seus receptores.
Quando o assunto é vício, existem algumas substâncias e práticas que são mais socialmente aceitas enquanto outras carregam um estigma maior. Mas mesmo frente a uma mesma substância… O que separa um usuário, um apreciador, de um viciado?
Pensemos no álcool, por exemplo, que é uma droga legalizada e socialmente aceita. O que determina se a pessoa é ou não é alcoólatra? A frequência do uso, a quantidade, a intensidade ou o quanto isso afeta a vida cotidiana da pessoa, o cumprimento de suas obrigações, o convívio harmônico nos relacionamentos, etc?
Não é o objetivo do presente texto responder essas perguntas, existem pessoas mais qualificadas do que nós para fazê-lo. Também não nos interessa aqui demonizar substâncias ou práticas.
Queremos entretanto propor uma reflexão:
citação do que é vício – digital minimalism
O que queremos pontuar aqui é que independente da forma que seu organismo reage a essa ou aquela substância, independente se
De qualquer forma… desenvolvendo ou não traços agressivos, vexatórios, ou impossibilitantes de se viver uma “vida normal”, seja lá o que isso significa, toda escolha na nossa vida necessariamente cobra um preço.
Se você perguntar pro Zeca Pagodinho qual teria sido o preço de ficar sem beber, ele provavelmente te responderia cantando: “Amigo eu nunca fiz bebendo leite, amigo eu não criei bebendo chá, eu sou da madrugada me respeite, eu sei a hora de ir trabalhar…“
Se você chapa num dia, no outro dia, vai ter ressaca. Se você chapa uma vida, é provável que comprometa um pouco seu fígado ou que crie uma leve pança. Se você come doce e fritura todos os dias, você sabe que vai engordar. Se você fuma um maço de cigarro por dia, sabe que você tá fudendo seu pulmão. São riscos calculados que optamos por correr.
Agora, o que dizer dos vícios contemporâneos?
Estamos cientes dos resultados de ficar muitas horas todos os dias conectados nas redes sociais? Como isso vai nos afetar enquanto indivíduos e sociedade? É uma escolha deliberada que estamos tomando ou simplesmente estamos sendo levados, sem refletir à respeito?
Bom, falo isso, porquê eu sou viciada em redes sociais. Já bebi mais quando mais nova, mas atualmente bebo muito muito pouco, praticamente não bebo. Sou aquela maconheira pilantra (nem sei se posso me considerar assim na verdade) que nunca compra e só fila, fumo sei lá, dou umas bolas nos baseados dos outros fim de semana.
Quando fumo maconha, gosto de fumar um cigarro branco depois. Uso LSD uma vez por ano, e pouco, porquê sou cabecinha. Café eu tomo uma vez por dia, uma xícara – tá bom, nos últimos tempos tem aumentado pra duas.
Meus vícios são açúcar… e instagram. São duas compulsões que se conectam de alguma forma com as minhas dores e necessidades não atendidas. E me fazem muito mal, as redes sociais principalmente.
Pode parecer meio exagerado… afinal de contas a internet nao e uma substancia.
Analiso (e luto contra) essa minha tendência desde 2015, quando ainda usava mais o Facebook que o Instagram. Falava sobre meu vício na época e as pessoas no geral não levavam a sério, não entendiam o quanto isso realmente me afetavam. Hoje já tem mais pessoas se ligando nisso.
Bom, nesses seis anos eu desenvolvi várias estratégias para minimizar os impactos das redes sociais na minha vida e tentar criar uma relação mais saudável com elas (se é que isso é possível).
Já tentei analisar meu vício por todas as perspectivas… individual, social, política. E por isso puxo hoje essa jornada.
Bom, quando falo vício me refiro a comportamento ou consumo compulsivo que traz alguma recompensa ou prazer imediato,
um padrão que geralmente se instala como um anestésico para alguma dor que a pessoa carrega e da qual conscientemente ou insconscientemente quer escapar. Essa dor pode ser decorrente de algum trauma, insatisfação, sentimento de falta, potencial não realizado, frustração… aqui as possibilidades também são inúmeras.
objetivo dessa série de posts:
jornada de reflexão sobre internet
é um assunto que me intriga e me incomoda de diversas formas,
então separei em temas
mas é uma jornada pra gente refletir sobre essa nova dimensão da vida
vai ter reflexão política, econômica, psicológica e inclusive espiritual
como tudo que faço na vida, tento ter uma visão holística da parada
espero que lance luz à questões pertinentes
Escravos do algoritmo – Uma jornada pelo vício em internet e redes sociais
Quando o lazer, o trabalho e a afirmação social estão no mesmo lugar
quem eu sou
como a internet afeta a minha vida
depois reflexões mais hard
o lado bom de ser blog é que dá pra fazer igual na minha cabeça
ir ligando os hiperlinks
o bom de ser assim é que se você quiser ler a jornada toda você lê
se quiser ficar só nas reflexões mais pessoais fica
se quiser ficar só nas reflexões mais objtivas, bom tb
Na minha família sempre tivemos um diálogo muito aberto sobre drogas. Meu pai fuma maconha diariamente e meus irmãos também.
Desde que eu tenho 12 anos meu pai conversa comigo sobre a hipocrisia de uma pessoa poder se entortar de tanto tomar cachaça, ficar agressiva, brigar com os outros, mas não poder acender um baseado e ficar de boa.
Um dia perguntei pra ele sobre a cocaína. Ele me respondeu o seguinte: “Minha filha, o problema com a cocaína é que o que se consome é geralmente misturado demais, vem um tanto de porqueira dentro. Aí um dia a pessoa dá uma sorte ou um azar e vem um pó mais puro. Ela cheira a mesma quantidade que está acostumada e quando vê, pá!, tem uma overdose.”
Pessoalmente já experimentei e não gosto de cocaína, tenho inclusive um pouco de preconceito. Mas de qualquer forma, tenho amigos que usam, e fora o fato que na minha humilde opinião ficam uns malas quando cheiram, levam suas vidas normalmente.