E eu uma mulher sempre sorrindo. Tenho apenas trinta anos.
E como o gato, nove vidas para morrer.
Esta é a Número Três.
Que besteira, aniquilar-se a cada década.
(…) Tinha dez anos na primeira vez. Foi acidente. Na segunda quis ir até o fim e nunca mais voltar. Oscilei, fechada como uma concha do mar. Tiveram que chamar e chamar e tirar os vermes de mim como pérolas grudentas.
Morrer é uma arte, como tudo o mais. Nisso sou excepcional.
Bom, por muitos anos eu pedi à Exu pra me desviciar em redes sociais e me viciar em livros. Ainda não rolou, mas esse ano de 2020 eu já li 31 livros. Já estamos no caminho.
É bom porque como eu falei eu me sinto muito angustiada e sozinha, e aí quando eu leio parece que eu vou fazendo os amigos que eu não tenho em vida. E com esses sim, eu consigo criar amor e laços, porquê o amor volta e nossa intimidade só cresce livro após livro.
E eu gosto de ser amiga dos grandes, dos que escreveram obras maravilhosas.
Dessa vez foi Sylvia Plath, A redoma de vidro.
De jovemzinha (adolescente talvez) eu conhecia o poema Lady Lazarus, que fala sobre todas as vezes que ela tentou suicídio. Mas nunca tinha lido nenhum livro dela.
No meu kindle eu gosto de colocar vários livros pra ter opção e certa vez fiz uma pastinha com “autobiografias” pra me inspirar técnicas e formas de contar a minha própria história.
Bom, eu ainda tava no Instagram quando comecei a ler. Postei zuando que “tinha maior medo de ler Sylvia Plath porquê achava que seria pesadão, mas que até os 17% tava o maior Diabo Veste Prada”.
É que o livro começa em Nova York em meados da década de 60 (confirmar a década) com uma garota do interior, meio pobretona, que ganha uma bolsa de estudos/tipo um trainee de um mês em uma revista de moda, e ama ser coberta por mimos, etc. Ela é uma nerd que tem uma bolsa em uma universidade, acho que Yale, e passa o tempo todo estudando.. Mas tem um namorado que ela fica bolada com a hipocrisia dele quando ele admite que ele não é mais virgem, e ela sim.
Ela sai com alguns garotos, etc. Bom, ela tem uma amiga Doreen, que é muito irônica, divertida, etc, meio avessa às regras, não quer cumprir os compromissos sociais do trainee, talz. Tem um dia que elas matam um jantar pra sair pra tomar uma com um cara que conhecem no meio do trânsito, que vem a ser um DJ famoso, que começa a sair com Doreen.
No fim do ano Doreen a convida pra uma festa que ela vai acompanhada de um peruano rico que lhe dá um alfinete de diamante, e acaba tentando a estuprar no jardim da festa de uma maneira bem violenta.
A partir disso Esther meio que disassocia, vai pro último andar do hotel só para moças onde estava hospedada, começa a se desfazer jogando pra fora do prédio todas as suas roupas, e volta pra casa ainda com sangue do tal peruano nas bochechas.
Ela ainda estava de férias da faculdade mas tinha certeza que quando chegasse na casa da mãe receberia uma carta afirmativa para fazer um curso de escrita com um cara foda, que com certeza reconheceria seu talento.
A carta que chega entretanto,não é uma aprovação, e a partir disso o quadro dela se agrava em uma depressão profunda. Ela pára de tomar banho, não consegue dormir, nem comer.
Sua mãe a leva a um psiquiatra machista que a aplica um choque que é um terror completo em sua vida e a traumatiza muito. Ela começa a disassociar pesado e bolar planos atrás de planos para se matar.
É internada uma primeira vez num lugar horrível, até que sua história sai no jornal e uma benfeitora aparece, uma escritora rica que já passou por internações em clínicas psiquiátricas e a coloca em um bom lugar, completamente diferente dos primeiros.
Bom, ela evolui, pouco a pouco. Vai conquistando liberdade dentro da clínica. É submetida a tratamentos de choque, mas que funcionam bem melhor, simplesmente a colocam para dormir. Ela começa a inclusive ir num ginecologista, pra tomar anticoncepcionais, marcadores temporais do livro.. e depois de anos de namoro com Buddy Willard transa com Iwrin, um qualquer que conheceu na rua, intelignte e rodado o bastante pra saber o que tava fazendo. Lhe tira o cabaço, mas ela tem uma hemorragia com isso.
Joan (a primeira namorada de Buddy, que por coincidência está no mesmo manicômio que ela se suicida) já pro final do livro e ela vai ao enterro, enterrar junto com o corpo coisas dela.
O livro termina na entrevista que ela tem pra sair do manicômio e retornar às suas aulas na universidade.
Bom, comecei a ler esse livro por volta do dia 20 de dezembro de 2020. Passei o Natal lendo, e terminei hoje, dia 25. Li 40% dele deitada numa bóia na piscina, de roupa, depois do almoço de natal.
Gosto de ler tendo grandes amplitudes pra descansar a vista e refletir, nesse caso hoje era o céu, entre momentos de sol forte de verão, e outros de chuva de verão se armando.
Em muitos momentos o livro é super pesado, ela é muito boa com imagens. A descrição do parto que ela acompanha com Buddy, seu namorado da época da faculdade, o médico rasgando o períneo da grávida.. quase dá aflição de ler.
A sinceridade que ela descreve seus planos de suicídio, também.
Senti mais compaixão e empatia por pessoas que passaram por depressão e disturbios mentais, tem certa hora que ela fala que preferia que fosse o corpo que estivesse doente, mas é a cabeça.
Meu pai.
Mas acabou o livro e eu me senti abraçada, de alma lavada. E foi tanta emoção desperta que eu vim escrever na sequência, e não precisei de ouvir música nem nada.
Eu já passei por muitos momentos de angústia e crise existencial na vida, muitos até de me questionar se eu não devia sei lá tomar algum remédio pra aplacar a dor ou as dificuldades. Nunca tomei nada.
Agora nada nada nada se compara ao que essa menina passou. E é um serviço a humanidade que ela tenha tido condições de escrever um livro tão sincero.
No final, olhando para o céu, rezei pela paz da alma de Sylvia Plath, sua inspiração, e renovei os votos do meu desejo de escrever algo que também vai ficar pra depois que eu for embora.
Bem vinda, nova amiga.