Como quadrupliquei meu hábito de leitura em 2 anos

...ou como de uma leitora medíocre, eu me tornei uma pessoa que lê.

Eu acredito muito na força transformadora do que a gente faz todo dia.

“Criar o hábito diário da meditação” é um dos itens que há muitos anos está na minha lista de metas de ano novo. A disciplina com a respiração e o silêncio, entretanto, geralmente perdura apenas os primeiros quinze dias de janeiro.

Se eu tivesse sido uma daquelas crianças dos esportes, daquelas fominhas da educação física, talvez hoje em dia eu tentasse revolucionar a minha vida tentando correr ou praticar algum outro exercício de impacto muitas vezes por semana.

O problema é que ao invés de líder de time, daquelas que escolhia uma a uma as colegas pra jogar junto, e xingava quando alguém errava o passe – eu era a que matava a educação física pra ir fumar cigarro branco na esquina.

De calça tectel cortada na lateral, chinelo e espadrapo falso que fazia as vezes de atestado médico, meu lugar era na arquibancada, ouvindo música, conversando fiado.

Talvez se tivessem aulas de yoga ou dança eu teria me interessado mais, mas eu era um fracasso em qualquer coisa que envolvesse bola, competição, marcar os outros no corpo à corpo – e pra atenuar a humilhação minha estratégia na época foi não insistir nos esportes.

Já adulta, nesse intento de ser uma pessoa melhor e mais saudável, os muitos anos de experiências frustradas na construção de hábitos de prática diária de exercícios ou meditação, entretanto, me trouxeram um precioso aprendizado:

Talvez eu tivesse mais sucesso se eu tentasse construir hábitos que me eram mais familiares e me dessem mais alegria. E assim, a partir do prazer do progresso, poderia inclusive ter motivação para incluir novos hábitos.

Foi assim que eu trouxe a leitura de volta pra minha vida.

Mural por Florencia Durán Itzaina

Eu fui uma criança que leu bastante e uma adolescente que leu bem pouco. Por influência de amigos e namorados, tive acesso à boas obras durante os meus vinte e poucos; mas depois de formada estava lendo quase que nada aos vinte e muitos.

Contei a história toda aqui.

Depois de alguns anos de formada, o sentimento que eu tinha é que estava emburrecendo.

Em 2018, aos 28 anos, li apenas 7 livros – três bons livros de literatura, um de produtividade (sou capricórnio com ascendente em virgem, gosto dessas coisas), dois de auto-ajuda e um “Mulheres que correm com os lobos”, que eu não sei muito bem classificar em que categoria se encaixa.

A média de leitura do brasileiro é de 4 livros por ano, 2,5 finalizados. Tá que eu ainda estava acima da média, mas pra uma pessoa que pretendia ser escritora e que se dizia “amante das letras”, estava ruim demais.

Se você quer fazer música, você precisa ouvir música; se você quer escrever, você precisa ler. Simples assim.

Pra piorar o quadro, eu ainda era (sou, talvez isso seja como um alcoolismo, que se controla mas não se cura completamente nunca) viciada em redes sociais – o que me prejudicava e muito, tanto na leitura quanto na escrita a valer.

Era como se eu depositasse ali, na efemeridade das redes sociais, todo o meu excedente criativo – e olha que eu tenho muito a dizer. Postava um monte e depois ficava cheia de culpa, apagando tudo.


Bom, por muitas vezes pedi a Exu que me desviciasse do Instagram e me viciasse em leitura.

Acho que até enfim está acontecendo.

Acredite se quiser, a grande virada de chave veio da nota de rodapé de um dos dois livros de auto-ajuda que li quando cheguei nesse fundo do poço em 2018.

Na época, “O milagre da manhã” era um livro que tava sendo muito comentado. Sendo essa pessoa meio obcecada por hábitos e produtividade que sou, e sabendo que eu tava precisando de uma mudança na minha vida, comprei o tal do livro.

Apesar de nunca ter entrado pro clube das 5 da manhã – embora hoje em dia eu acorde bem mais cedo do que antigamente, quando vivia de ser DJ e produzir festas – o tal do Hal Elrod me apresentou uma matemática que fez meus olhos brilharem:

Se eu lesse 10 páginas por dia (coisa que eu não demoro mais de 20-30 minutos pra fazer) seriam 300 páginas por mês, 3600 em 12 meses… O que dá uma média de 18 livros de 200 páginas por ano.

Pra quem tava lendo 7, era o estímulo que eu precisava. Resolvi testar. Seguindo a receita do moço, em 2019 bati a meta dos 18 livros.

A construção e fixação do hábito e a sensação de fazer algo bom por você mesmo diariamente

Dizem que as pessoas que correm maratonas passam a acreditar mais na sua capacidade de vencer desafios e conquistam uma maior qualidade de vida não só no nível físico, mas em outras áreas como vida profissional, relacionamentos, etc.

Terminar um livro, sentir que eu estou aprendendo, pode não me dar o mesmo nível de serotonina de 1h de corrida, mas já me garante alguma dose de bem estar.

Por quê as pessoas acham normal e recomendado dedicar pelo menos 1h diária à academia, caminhada, exercício físico, mas acham extrema a ideia de exercitar seu cérebro de 30 minutos a 1h por dia? (Além do fato de que lendo os livros certos – ou seja, aqueles que te agradam – ler é gostoso. É uma maneira deliciosa de se estar em sua própria companhia.)

Com esse pensamento, estipulei a meta ousada de 50 livros para 2020, mais de um por semana. Pra isso precisaria dedicar pouco mais de 1h por dia por dia à leitura. Pense em quantas horas você fica por dia fazendo nada na internet. Dá pra fazer.

Bom, escrevo esse texto em meados de novembro de 2020, com 32 livros lidos. Acho que até o fim do ano completo 34 ou 35. Ou seja, não rolou de bater a meta.

Se tivesse lido diariamente por 1h teria rolado, mas foi um tanto quanto desafiador manter a disciplina no meio de uma pandemia e do caos social que foi esse ano. Passei os meses mais críticos da quarentena sem nem pegar em livro.

De qualquer forma importa menos a meta e mais (muito mais) a construção do hábito e o contato com esses livros incríveis que ando lendo. Sério, foi só livro delicioso.

Pra finalizar, gostaria de passar algumas dicas do que funcionou pra mim na construção/fixação desse hábito:

  • Associar o hábito da leitura com algum outro hábito. Por exemplo, durante a quarentena, ler era meu momento de tomar um pouco de sol e sintetizar minha dose diária de vitamina D.

  • Eu acho muito gostoso ler no sol (tem gente que tem dor de cabeça ao fazer isso) e pra mim ler de bíquini (e chapéuzin pra proteger “as vista”) tomando sol no fim de semana é uma das coisas mais relaxantes que eu posso pensar em fazer.

  • Ler alguns minutinhos (pode ser tipo 10-15 minutos) de alguma leitura edificante de manhã é muito gostoso. Uma boa literatura antes de dormir pode te manter acesa e causar sonhos estranhos, mas pessoalmente acho que é um preço que vale a pena pagar.

  • Andar com livro/kindle na bolsa e ler em momentos tipo fila de banco e no transporte público, (mais uma vez pra quem não fica com dor de cabeça… dizem que faz mal pra vista, mas… viver é muito perigoso, já diria o poeta).

  • Ter tesão nesse universo, pesquisar sobre livros… e ler o que você gosta. Tudo isso só vai funcionar se você tiver prazer na parada. Estamos em 2020, o tempo tá passando cada vez mais depressa, tem tanta coisa fantástica que já foi escrita em tantos estilos diferentes, com certeza existe algo que vai te agradar. A vida é muito curta pra ler livro ruim/chato.

No próximo post vou escrever um pouco sobre como faço minha lista anual de leituras, clica aqui ó.

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