De Rivotril à Rivo.art – Trocando o anti-depressivo pela tinta e encontrando na arte sustento e cura

Pedro Gomes, mais conhecido como @obandivomau, 30 anos.

O que você faz? Como você define o seu trabalho?
Eu defino o meu trabalho como arte visual contemporânea. Durante um tempo fiquei preso nas telas e só conseguia produzir em cima dessa base, mesmo já fazendo um trampo que considero contemporâneo. Depois de algum tempo e vivências, consegui aplicar meu estilo em outras bases e superfícies.

O que é a Rivo?
A RIVO surgiu em um trabalho de faculdade, na disciplina de Gestão de Marcas. Tinha que fazer o lançamento completo de uma e estava em uma fase onde começava a produzir mais desenhos e me focar um pouco em coisas além da publicidade em si. Além disso, tinha acabado de sair de uma depressão onde eu fazia muito uso do RIVOtril… e a Rivo vem disso.

Como assim?

RIVO vem do Rivotril mesmo, o remédio. Durante 6 meses eu fiz uso de Rivotril, por uma depressão que me deixou no chão.

Com o tempo eu comecei a apagar, mas eu percebi que o remédio te apaga e não te deixa sonhar. Quando comecei a produzir meus trampos, parei de usar o Rivotril. Voltei a dormir e a sonhar.

Quem é o Pedro artista para além da rivo?
O Pedro artista é um cara que tá sempre inquieto com a forma de produzir e o trabalho que
está entregando para o público. Sempre acreditei e vou acreditar que o que eu produzo serão
as marcas que deixarei no mundo e tenho muito orgulho de escrever minha história assim.

Durante muito tempo eu não estive confortável com meu jeito questionador e inquieto, hoje
eu consigo perceber que a minha produção nasce e floresce a partir disso, o que me deixa feliz
por conseguir aproveitar esses sentimentos.

Quando você se descobriu artista?
Eu sempre fui um sonhador e sempre lutei com isso. Parei de lutar contra em 2014 com 23 anos. Mas me aceitei como artista em 2019, quando fui demitido do meu ultimo trampo CLT e no mesmo dia uma exposição que eu fazia parte foi inaugurada. Ali deu um click do que o Pedro realmente era pro mundo.

Você vive integralmente da sua arte atualmente?
Eu costumo brincar que pego freelas de design pra aliviar na arte. Mas no fim, eu tomo bolo dos freelas e a arte me salva. Posso dizer que hoje a minha grana vem 70% do que eu produzo pra RIVO e das telas que assino como Pedro Gomes.

Tem quanto tempo que sua arte te rende $?
A arte começou a render uma grana mesmo em 2019. Ali começou a girar um pouco na minha
mão. Hoje eu tenho um trampo mais estável.

O que você fazia antes pra se manter? Como foi esse processo de migração para viver da Rivo?
Eu já fui de tudo nessa vida: office boy, auxiliar administrativo, desenhista técnico, projetista, redator, social media, analista de marketing.

O processo de viver da RIVO é bem louco, prazeroso e cansativo. Estar na frente da sua renda é algo que assusta e inspira ao mesmo tempo.

Como você coloca preço nas suas obras?
Eu sou muito ruim de precificação. Muito ruim mesmo. Atualmente eu tenho entendido que meu trampo tem um valor e parto disso pra colocar um limite mínimo em tudo que faço. É importante saber que terão peças caras e terão peças baratas. Por fazer um trampo muito limitado, me sinto no direito de cobrar mais por alguns trampos. Tento pensar também, que nem todo mundo vai ter grana pra adquirir um trampo, isso ajuda a aceitar que alguma peça vai ter que ser mais barata.

Quais são as temáticas em torno das quais a rivo orbita?
A RIVO conversa muito com a rua. Pixo, rap, funk, maconha, amor. Na RIVO eu aplico muito as coisas que me atingem ao longo do dia e de formas diferentes.

E o seu trampo solo?
Meu trampo solo é onde eu me deixo ser influenciado pelas minhas vivências e viagens mentais. A criação sempre parte de um ponto inicial onde eu deixo fluir o que eu estou sentindo e o que eu quero mostrar. Gosto de experimentar também, trabalhar com cores, sombras e complementos.

Qual foi o momento mais marcante da sua carreria?
Setembro de 2019. Tive uma peça exposta naquela laguinho no meio do Parque Lage. Ali eu vi que meu trampo tinha força.

Qual é o maior desafio que vc encontra como artista independente?
Sobreviver mesmo. A arte te dá e toma muito. É importante entender os processos que tá vivendo, entender que não é sempre que algo vai virar. Entender que tudo é uma experiência e tirar o melhor daquilo mesmo que seja doloroso.

Quais são suas maiores inspirações?
Eu tenho alguns pontos de inspiração muito fortes: A obra do Racionais, Funk (anos 90 e 00), Basquiat, Os Gêmeos, Maxwell Alexandre e Diego Mouro. Mas eu gosto de trampar de um jeito livre, pensando na minha vivência e aplicando as coisas do jeito que eu acho mais agradável para o meu olhar (sou daltônico) e pra minha cabeça e coração.

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