PUPILA, como diria Isabel Allende, é um "caderno de anotar a vida".
"No canil, tive a ideia de que estava a fazer um quebra-cabeças de mil peças em que cada peça tem a sua posição precisa. Antes de as colocar, a todas, parecia-me incompreensível, mas estava certa de que se o conseguisse terminar, daria um sentido a cada uma e o resultado seria harmonioso. Em alguns momentos tenho a impressão de que já vivi isto e que já escrevi estas mesmas palavras, mas compreendo que não sou eu, mas outra mulher, que escreveu em seus cadernos para que eu viesse a me servir deles. Escrevo, ela escreveu, que a memória é frágil e o trânsito de uma vida muito breve e sucede tudo tão depressa que não conseguimos ver a relação entre os acontecimentos, não podemos medir a consequência dos atos, acreditamos na ficção do tempo, no presente, no passado e no futuro, mas também pode ser que tudo aconteça simultaneamente, como diziam as irmãs Mora, que eram capazes de ver no espaço os espíritos de todas as épocas. Por isso, a minha avó Clara escrevia nos seus cadernos para ver as coisas em sua dimensão real e para enganar a má memória." (A casa dos espíritos, Isabel Allende)